Discutir a sustentabilidade econômica da saúde no Brasil tem sido pauta recorrente da agenda de quem, como eu, atua nesse setor. Porém, entendo que a discussão por si só gera pouco – ou quase nenhum – avanço. E, lançando mão de minha conhecida inquietude e de uma dose necessária de ousadia e coragem, decidi ir mais longe e criar o Global Forum – Fronteiras da Saúde, uma iniciativa do Instituto Lado a Lado pela Vida, com o propósito de efetivamente gerar ações concretas e factíveis que contribuam para o equilíbrio financeiro dos sistemas de saúde público e privado no Brasil.
Foram dois dias intensos de troca de informações relevantes e consistentes; debates assertivos e apresentações de cases internacionais que, certamente, serão fonte de inspiração para o Brasil encontrar caminhos e identificar o que realmente faz sentido para atingir a tão necessária sustentabilidade econômica da saúde, considerando que, em 2030, seremos a quinta população mais idosa do mundo.
De acordo com um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), entre 1995 e 2017, a despesa do INSS quadriplicou de R$ 141 bilhões para R$ 561 bilhões. Outro dado de alerta, divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), indica que 3,6% do orçamento do governo federal foi destinado à saúde, em 2018. A média mundial é de 11,7%.
Muito foi falado sobre a atuação do Sistema Único de Saúde (SUS), que reforço, sou uma aguerrida defensora. Hoje, 75% dos brasileiros dependem dele para receber atendimento médico e grande parte dessa população está em locais distantes dos grandes centros urbanos, o que dificulta ainda mais o acesso. Desde sua criação, há 31 anos, o SUS tem uma extensa lista de conquistas considerando que somos um país onde a desigualdade é uma realidade e os recursos são finitos e muito menores do que o destinado à saúde em países de renda média e alta. Porém, há muito o que fazer e devemos atuar efetivamente na prevenção e na saúde primária para virar a chave.
Durante o Global Forum – Fronteiras da Saúde, destacamos também as questões que preocupam os líderes empresariais, que são os grandes pagadores do sistema suplementar, com os custos dos planos de saúde, representando a segunda maior despesa das áreas de Recursos Humanos, perdendo apenas para a folha de pagamento. Nesse tema, novamente, a discussão enfatizou a importância da conscientização de gestores das empresas e das operadoras de planos em investir na prevenção e na promoção da saúde, tanto emocional como física de suas equipes. Além disso, há uma necessidade urgente de educar o colaborador que ele é corresponsável pela gestão de sua saúde e pelo uso sensato do plano. Não há mais espaço na agenda corporativa para empurrar esse tema para debaixo do tapete.
O tempo acabou. Lado a lado, temos de criar um ecossistema virtuoso, onde a iniciativa privada, o governo e a sociedade civil atuem com um propósito único, o de equilibrar a balança da saúde no Brasil. E nós, do Instituto Lado a Lado, demos esse passo e fizemos o que faltava: reunir os atores que já discutiam separadamente essa premente necessidade. Nossa isenção, independência e integridade nos credenciam a isso e não vamos descansar até que possamos avançar.
Frente a todos esses obstáculos, nos inspiramos no World Economic Forum, que acontece todo mês de janeiro em Davos, na Suíça, para criar a dinâmica do evento e, principalmente, a sua programação, que contou com representantes de órgãos públicos e privados do Brasil e do exterior.
A partir do Global Forum, criaremos um grupo de trabalho, com a coordenação de pesquisadores da FEA/USP, para elaborar um documento com sugestões factíveis, que será apresentado ao Ministério da Saúde. A nossa jornada de mudanças e luta é longa, mas acreditamos que podemos promover essas transformações tão imprescindíveis.
Espero que todos os que participaram do Global Forum – Fronteiras da Saúde tenham saído de lá com um olhar mais apurado, com as esperanças renovadas e uma inquietude positiva, para propor caminhos efetivos em busca de resultados diferentes e que beneficiem a todos. E aqueles que não estiveram lá também podem se juntar a nós para, lado a lado, transformarmos a saúde no Brasil!
Marlene Oliveira
Presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida